CAPÍTULO 6: VISITANDO VENTOBRAVO
Sete anos se passaram desde o ocorrido. Medardo continuou com o treinamento de Étel. Era um excelente professor e por longos anos o ensinou as técnicas mágicas que conhecia, se empenhando para que Étel a cada dia fosse mais forte. E com o desenrolar do tempo o garoto se tornava ainda mais habilidoso com a manipulação da magia, sempre aprendendo novos feitiços e aprimorando àqueles que dominou.
Em uma tarde, às margens do Lago de Cristal, acompanhado por seu pai, Étel estava treinando algumas conjurações. Teleportando-se alguns metros para frente, o garoto virou-se para Medardo e lançou contra ele uma salva arcana.
Porém, ambos foram surpreendidos quando no meio deles Adisa apareceu de repente, envolvendo-se num escudo gélido para conter o feitiço lançado por seu filho. Um clarão de luz cor lavanda reverberou da colisão entre as magias e uma fumaça densa a encobriu.
-Mãe, está tudo bem? – gritou Étel, correndo em sua direção.
- E por que não estaria? – retrucou Adisa, franzindo o cenho - Preciso que me acompanhe até Ventobravo; tenho algumas compras a fazer. Étel voltou seu olhar para Medardo, que com um aceno de cabeça o permitiu partir.
O garoto então respirou bem fundo e ergueu a sua mão direita, transmutando a matéria e distorcendo a realidade a sua volta, abrindo um portal que dava direto para Ventobravo. Contudo, no momento em que ia finalizar a conjuração, Adisa o interrompeu segurando sua mão.
- Nada de portais meu filho, sabe muito bem que eu não gosto. Vamos voando! Depois de dizer tais palavras, ela olhou para o céu e clamou bem forte:
- Agabo! Alguns segundos se passaram e ouviu-se o bater de asas ao longe. Um dragão começou a se aproximar e aterrissou ao seu lado. Adisa e Étel então subiram na criatura.
- Vamos para Ventobravo meu bom dragão – sussurrou Adisa.
Ele alçou voo de imediato e partiu rumo a Ventobravo, voando bem perto das belíssimas árvores do bosque. De cima, dava para observar o verde que emanava da Floresta, além das várias ovelhas perambulando pela região, tão minúsculas vistas do alto.
Algumas horas depois já se via a torre da bastilha da cidade, localizada entre o Distrito dos Anões e a Cidade Velha, cujo vislumbre encantava os olhos de Étel. Passado mais algum tempo, ao chegarem a seu destino, o dragão pousou delicadamente na entrada de Ventobravo.
Haviam duas torres de vigilância, uma de cada lado do portão principal da cidade, cujos pontos mais altos eram cobertos por bandeiras azuis que se estendiam por alguns metros abaixo, dançando graciosas em meio aos ventos da região. A estampa de leão presente nas bandeiras representava a força e a ferocidade da Aliança, uma facção composta por humanos, anões, elfos noturnos, gnomos, worgens, draeneis e pandas, com o objetivo de se defenderem das inúmeras ameaças existentes em Azeroth.
Adisa se despediu de seu amigo e a criatura voou para o alto até desaparecer de sua vista!
Adentrando a cidade, andaram por uma ponte que ostentava estátuas enormes e belíssimas dos campeões que se sacrificaram pela Aliança. As estátuas se encontravam sobre uma ponte que dava acesso ao Distrito Comercial, sendo que abaixo da ponte se encontrava um lago de águas cristalinas que percorria toda a cidade, separando os distritos de Ventobravo e fluindo até chegar do outro lado, onde se encontrava o oceano.
Enquanto Adisa foi à procura de uma bela camisa no Ao Molde Moderno, Étel caminhou até uma das bibliotecas da cidade. Adentrando O Escriba de Ventobravo, começou a olhar os livros da prateleira.
Percebendo que o mago não estava nem um pouco entusiasmado com os livros, o bibliotecário Adair Gilroy se aproximou e apontou para um livro em especial.
- Se estás procurando por algo interessante talvez este aqui o agrade. Esse livro lhe ensina a moldar a sua aparência.
Étel ficou intrigado, pegou o livro e começou a folheá-lo. “… Cecidimus! Fingunt! Pervertitis…”.
- Que feitiço interessante! Eu acho muito importante poder alterar sua aparência.
E tirando uma moeda de prata do bolso, Étel alugou o livro com Adair, pondo-se a lê-lo confortavelmente na praça de frente para a catedral da cidade.
Era uma construção gigantesca, situada no centro de Ventobravo. Sua estrutura era toda feita de pedra, com uma escadaria enorme que dava acesso ao seu interior. Ali era considerado o centro religioso de todos os seguidores da Luz Sagrada. Os sacerdotes e paladinos que podiam ser vistos por ali buscavam espalhar a magia sagrada por todos os confins de Azeroth e todos eram muito bem-vindos naquele local, desde que sua jornada fosse de boas intenções.
Não se passaram alguns minutos desde que Étel começou a ler o livro e sua concentração se voltou para um jovem que se encontrava na entrada da catedral. O garoto parado ali possuía uma estatura média e um porte físico que mais parecia um guerreiro do que um devoto da Luz, trajando uma veste branca e longa, de costura única.
Assim que se voltou para onde Étel estava sentado o sacerdote percebeu que estava sendo observado. Étel tentou disfarçar sem sucesso.
- Algum problema feiticeiro? – sussurrou o sacerdote na mente de Étel.
- Não há problema nenhum. Não queria me intrometer.
- Venha até mim!
Assim que a voz ecoou na cabeça de Étel, ele sentiu seu corpo tomando vontade própria e suas pernas começaram a se mexer e o impulsionar para frente. O desespero em seus olhos era evidente e naquele momento o garoto tinha perdido totalmente o domínio sobre seu corpo, o retomando somente ao chegar bem perto do sacerdote.
- Muito prazer Étel – exclamou o sacerdote com um sorriso no rosto.
- Digo o mesmo senhor -. Respondeu Étel, com a voz meio trêmula, ainda se recuperando do episódio.
- Eidil. Chame-me de Eidil.
- Eu não queria incomodar – disse Étel novamente.
- Eu sei que não, já que acabei vasculhando a sua mente.
- Essa é uma habilidade muito injusta. As vezes é melhor não saber o que as pessoas pensam, pois o pensamento as vezes é involuntário.
- Pelo contrário, melhor saber. Meu papel neste mundo é inspirar os corações desanimados e trazer esperança para aqueles que caminham no vale da desolação. Ao entender seu interior, consigo com maior aptidão guiar o seu espírito.
Étel nada disse, apenas concordou com a cabeça, mudando seu ponto de vista.
Eles ficaram conversando por muito tempo, parados na frente da catedral de Ventobravo. Enquanto isso, Adisa estava desnorteada olhando os vários modelos diferentes de camisa, tentando escolher quais levaria para casa.